1. Assim disse o Mahdi:
2. Havia nascido então, do útero de Miriam Azimi, no mês do Ramadã, em um posto de gasolina no meio da estrada de Mexede, o jovem Kaled.
3. Antes de todos deixarem Miriam e Kaled a sós, os frentistas parabenizaram a jovem mãe e lhe oferecem um dormitório onde se deitavam, para que ela pudesse descansar confortavelmente com o bebê.
4. Brincavam, dizendo que, por que o bebê não tinha chorado ao nascer, ele merecia um quartinho só para ele.
5. E Miriam então havia dito: “Kaled não chorou, pois a mão de Iblis não desceu sobre o meu menino, pois foi o meu pedido á estrela cadente”.
6. Os frentistas então deixaram Miriam descansando com seu filho no dormitório, e enquanto isso, Liza comprou algo de comer para ela, seu marido e seu filho.
7. Já Zakariya foi ao lado de fora para ligar para Hannah pelo orelhão.
8. Já preocupado e muito ansioso, bateu o pé no chão esperando por uma resposta, e para seu alívio, Hannah respondeu do outro lado da linha.
9. “Que alívio… eu fiquei preocupado”, disse Zakariya, que soube então que Hannah havia se machucado gravemente e fora levada às pressas ao hospital local por ambulâncias.
10. E entre pausas para ouvir Hannah, ia respondendo a chamada: “Sim, paramos aqui em um posto”, “Isso, foi um atentado, foi cruel”,“Sim, estão comigo”.
11. Hannah se preocupou com o estado das meninas, principalmente quando soube que estavam atacando principalmente as crianças durante o atentado ao santuário de Imam Reza.
12. Hannah então havia lhe perguntado sobre Yousef e seu marido.
13. “Hannah…”, Zakariya buscava algum eufemismo, “…não, não estão”, “…lamento muito”.
14. Após uma breve pausa, Hannah pergunta se estava indo para casa: “Estamos a caminho”, dissera Zakariya, “Eu vou te buscar já já”, “Beijos, se cuida”.
15. Zakariya teve a difícil missão de noticiar a morte de Yousef e do pai de Ilizabith. Hannah ficara chateada por um casamento que durou tão pouco, apenas alguns meses.
16. O segredo da gravidez de Miriam, ao menos, seria um segredo repartido apenas pela família de Liza.
17. Liza, contudo, teria uma missão ainda mais difícil, tirar Kaled de sua mãe, pela proteção de ambos.
18. Mesmo com a morte de Yousef, o nascimento de Kaled era uma testemunha e prova viva de um suposto adultério cometido por Miriam.
19. Um atentado de um grupo radical que queria matar seu filho já era o suficiente, e Liza não queria que Miriam passasse por um apedrejamento por causa do filho dela também.
20. Zakariya então vê sua mulher saindo para fora para se juntar a ele, levando Yohannan, que agora estava bem alimentado e não reclamava de fome ou de sede.
21. “Não deveria ter escondido isso de mim, Ilizabith”, disse Zakariya calmamente á sua esposa.
22. “Era necessário, mais ninguém poderia saber”, respondeu Liza.
23. E após um silêncio de reflexão, Zakariya lhe perguntou:
24. “E agora? O que vamos fazer?”, e se referia ao filho de Miriam, Kaled.
25. “Não sei, só sei que Miriam não pode ficar com o filho”, dissera Liza, abaixando a cabeça.
26. E encostando a cabeça na parede, Liza se revoltava: “Maldição! Ele já tem um nome!”
27. Zakariya, lhe abraçando por trás, lhe consolava. Sabia que arrancar o menino dos braços de Miriam seria uma grande tragédia, agora que ela estava gostando da criança.
28. “Conheço uma família em Teerã”, disse Zakariya para sua mulher, que se virou para ele para que continuasse a falar.
29. “Um velho amigo, chamado Casper¹”, continuou Zakariya. “Ele… perdeu sua filha anos atrás, ele e sua esposa poderiam ter uma nova chance, e principalmente, o menino.”
30. “Uma nova vida…”, disse Liza, pensativa e esperançosa.
31. “A capital é um lugar mais próspero e seguro para o menino, Kaled”, argumentou Zakariya. “A Roxanne² é uma boa mulher, são ricos e podem prover uma boa educação ao menino”.
32. “Longe dos conflitos… e da nossa família”, disse Liza, muito pensativa.
33. Além de todos os problemas, Liza sabia que poderiam passar por perrengue para sustentar o filho de Miriam, pois eram pobres e viviam na periferia.
34. Hannah já dividia o lar com Miriam e todos os seus irmãos e irmãs, além dos filhos e filhas dos seus irmãos e irmãs, já Casper e Roxanne vivam a sós em sua mansão.
35. Após algum tempo a sós, querendo esperar por mais tempo em particular para Miriam, Liza diz que vai chamar sua irmã, entrando de volta ao recinto.
36. Zakariya então se preparava para entrar na loja de conveniência novamente, quando olhou para o céu para apreciar a luz das estrelas.
37. Com a cabeça para o alto, pôde ver uma estrela brilhante no topo da abóbada celeste, a estrela da manhã.
38. Sentira que estava vendo algo de familiar, e de repente, viu então um pavão voando até o telhado da conveniência, onde havia um ninho.
39. Zakariya se sentiu impressionado ao olhar uma mãe pavão dando de alimentar aos filhotes, sob luz da estrela da manhã.
40. Um frentista então apareceu para puxar assunto, e percebendo que Zakariya estava olhando para o pavão, o frentista lhe disse: “Parece que conheceu a Jasmine!”
41. “Jasmine?”, perguntou Zakariya.
42. “Nossa pavoa de estimação! Tá sempre ali em cima!”, disse o frentista.
43. E após aquela cena, Zakariya e o frentista entram de volta á loja de conveniência, acompanhados do cachorrinho vira-lata que fielmente os seguia, pois o doguinho era um bom cãozinho.
44. Eu, Ramakrishna, adoro cachorros, assim como o próprio Mahdi.
45. O Mahdi sabe o que houve, pois Zakariya contara o que se sucedera á Ilizabith, e Liza contara a Yohannan, que lhe contou a história.
46. Sem saber como proceder, Liza esperava o momento certo para falar com sua irmã na porta do dormitório, sem ouvir nada vindo da sala de dentro.
47. Yohannan, que se juntara á sua mãe, começa a lhe apressar, dizendo que queria ver seu primo, e pedindo por paciência, Liza espera mais um pouco, planejando bem o que dizer para Miriam.
48. Liza olhara para Yohannan e começou a se imaginar na pele de sua irmã, imaginando como ela reagiria se fosse com seu filho.
49. Suspirando, Liza abre a porta do dormitório para conversar com sua irmã, mas se depara com mãe e filho adormecidos, provavelmente, continuando o contato entre os dois no mundo dos sonhos.
50. Miriam e Kaled bem poderiam estar brincando juntos nas florestas e planíces, ou talvez estivesse nevando, e assim, brincando de guerra de bola de neve.
51. Se fosse verão, estariam nadando na praia e fazendo castelinhos de areia, e se fosse primavera, estariam brincando de bola e comendo um piquenique.
52. Se fosse outono, a mãe estaria ensinando a andar de bicicleta, a jogar futebol, a ler, a amar, a falar, a ensinar.
53. Não importa onde, em que lugar, em que hora, o amor de Miriam com Kaled ultrapassava qualquer barreira, pois Miriam queria estar sempre junto de Kaled.
54. Liza então se senta na pequena cama onde Miriam deitava e admirou a visão de Miriam e Kaled, abraçados e sorrindo.
55. Após tantas vezes em que Miriam aparentava dar a luz ao anticristo, Liza olhava para o semblante do bebê e só conseguia ver um anjo.
56. Liza teve de passar a mão nos olhos para segurar o choro, pois não queria ser uma vilã e separar mãe e filho daquela maneira.
57. Mas como ela sempre dizia, “as coisas são como são”.
58. Liza ficou sentada na beira da cama, com as mãos entrelaçadas, olhando para o chão.
59. Aguardara ansiosamente pelo fim daquela espera agonizante, pois a turbulência em seus pensamentos já não lhe permitiam pensar com clareza.
60. Sentindo um pequeno susto, então, Liza olha para Miriam e percebe que seus olhos se abriram, levemente, como se pedindo mais alguns minutinhos para descansar.
61. Liza então se preparava para dizer o que precisava dizer, porém, MIriam lhe disse, sussurrando:
62. “Eu já sei.”
63. Miriam já sabia que seu filho não seria seu por muito tempo, pois sabia que corria risco de vida, e quanto mais se apegasse á Kaled, mais dolorosa seria a perda, e ela já havia se apegado o suficiente.
64. O menino, que havia então acordado, alcançava o seio de sua mãe com uma mãe, e assim, Miriam lhe dera de amamentar ao menino, que também não chorava para lhe pedir uma necessidade tão vital.
65. Se aproximando de Miriam, Liza lhe diz: “Vamos levar para um casal que é amigo nosso, irão cuidar bem de Kaled”.
66. Miriam então olhou para o menino Kaled, que não tinha nenhuma marca de estrela de oito pontas na testa, e o olhou fixamente para que se lembrasse das feições do garoto enquanto lhe amamentava.
67. “Isso não é justo…”, disse Miriam, já aceitando sua perda, mas barganhando mesmo assim: “Você queria que eu ficasse com ele, mas agora quer tirá-lo de mim”.
68. “Me perdoe, irmã”, Liza mal conseguia falar uma palavra, “Sabe que estou fazendo isso para protegê-lo também”.
69. “Poderei vê-lo novamente?”, perguntou então Miriam, desse vez olhando nos olhos de Liza, que não respondeu, pois não lhe tinha a resposta e não queria alimentar falsas esperanças.
70. Yohannan, que também estava ali, também acaba se entristecendo, pois compreendia a situação e já sabia que não iria mais ver o seu priminho.
71. Zakariya então bate na porta e diz que já abasteceu o seu jipe para deixarem Kaled em uma pousada onde residiam Casper e Roxanne, velhos amigos de Zakariya.
72. O casal estava de passagem em Mexede, pois também queriam prestar o rito do Ramadã na cidade mais santa do Irã.
73. Afim de trazer conforto ao bebê, Miriam havia lhe embrulhado em leves e finos lençóis sobre um cesto de mercado que havia encontrado na loja de conveniência, prendendo-o ao cinto de segurança como se fosse um bebê confort.
74. Liza e Miriam agradecem á hospitalidade dos frentistas e do cachorro companheiro, e sem mais enrolações, foram novamente até o centro da cidade para levar o menino aos cuidados de Casper Navid e Roxanne Navid.
75. Uma música tocava no rádio do jipe, uma música um tanto melancólica que refletia os pensamentos de Miriam naquele momento, uma mãe obrigada a deixar um filho que não conheceu direito por conta de um cisma, uma lei, uma injustiça.
76. Miriam olhava para as estrelas acima dos prédios e das ruas da cidade, relembrando dos momentos que tivera com Kaled em seus sonhos, quando seu filho dormiu com sua mãe.
77. Viu as estrelas formando desenhos, e nos desenhos nas estrelas, viu um menino correndo aos braços da mãe e lhe abraçando, e depois, se arrumando para ir á escola.
78. Emocionada, Miriam olhou para as estrelas e viu oito estrelas formando uma estrela de oito pontas na testa de um menino feito de estrelas.
79. Recordou-se de uma conversa que jurou ter tido com seu filho, em seu sonho:
80. “Mãe, eu não sou como os outros. Eu sou um monstro?”, perguntava Kaled á Miriam.
81. E Miriam havia se ajoelhado para olhar nos olhos do filho.
82. “O mundo não te merece, Kaled”, dizia Miriam, “O mundo tem medo do que não conhece”.
83. Miriam passava suas mãos no rosto de Kaled, lhe fazendo carinho, e então o menino lhe perguntou: “Você tem medo de mim?”
84. Kaled pegava nas mãos de sua mãe, que lhe respondeu: “Eu não tenho medo, pois eu sei que você não é um monstro. Você é o meu filho, e isso é tudo o que importa”.
85. E então, os desenhos nas estrelas haviam sumido do céu.
86. “Chegamos”, disse Zakariya, parando abruptamente o carro e a música que tocava ao fundo.
87. Miriam olhou pela janela do jipe e viu, por trás de um chafariz de mármore, uma porta de vidro fechada entre dois vasos de plantas e duas colunas, iluminada por uma lâmpada incandescente laranja acima da entrada.
88. Liza e Zakariya aguardaram então por Miriam para descer do carro e se despedir de Kaled.
89. Tomando um grande suspiro, Miriam tirou o cinto de segurança do cesto de mercado e abriu então a porta do carro, carregando o menino Kaled no cesto.
90. Coberta com seu niqab negro, Miriam mal podia ser notada na rua, caminhando calmamente pelo pátio e contornando o chafariz como uma espiã ou ninja.
91. E chegando então até a entrada da pousada, teve sua silhueta revelada pela lâmpada laranja da entrada e dispôs o menino no cesto de supermercado cuidadosamente em cima do tapete em frente á porta de vidro.
92. E no tapete, haviam os dizeres: “Onde o amor entra e nunca mais sai”.
93. Ajoelhada, a mãe arruma o menino Kaled, que adormecia profundamente e sorria com as mãos para cima.
94. Miriam torna a olhar o seu menino por mais alguns últimos momentos, na esperança que ela recordasse de sua feição por muitos e muitos anos.
95. A mãe, então, lembra de algo e olha em volta de seu pescoço, enrolado pelo lindo cachecol de tricô que a mãe de Liza havia lhe entregue de presente em seu casamento.
96. Miriam tira o seu cachecol e, cuidadosamente, enrola o gordo pescoço do bebê, lhe aquecendo e lhe presenteando.
97. Miriam tira o seu cachecol e, cuidadosamente, enrola o gordo pescoço do bebê, lhe aquecendo e lhe presenteando.
98. E ao virar o cachecol, pôde ler a mensagem “Felicidades à Miriam Azimi”.
99. Sorrindo e com os olhos brilhando, Miriam escapou um riso, como se o presente de casamento fosse um presente ao nascimento de Kaled aquele tempo todo.
100. Miriam não sabia como aproveitar os últimos momentos debaixo da luz, consagrando seu filho a uma pousada de Mexede, então lhe beijou um longo beijo em sua testa.
101. Miriam jurou ter visto então uma estrela vermelha de oito pontas brilhar por alguns segundos em sua cabeça, e ainda dormindo, Kaled se remexeu e riu.
102. “Adeus, Kaled”, disse Miriam, que após se levantar, tomou fôlego para tocar a campainha.
103. Ansiosamente, remexia suas mãos e aguardava pela vinda da nova família de Kaled, e antes mesmo que pudesse se virar ao filho para lhe dizer algo mais, a porta se abriu.
104. Se assustando levemente e dando para trás, Miriam viu então um homem de barba acompanhado de uma mulher de cabelos curtos, ambos vestindo roupas de banho brancas.
105. Miriam tinha se assustado, não porque a mulher não cobria seus cabelos, mas porque ambos exibiam muita pele e isso não era comum na periferia onde vivia.
106. Com um silêncio barrando então a apresentação entre os quatro, o homem então puxa um óculos do bolso e põe sobre seus olhos para observar melhor a cena
107. A mulher então nota que há um bebê com um cachecol de tricô em um cesto de mercado, debaixo da sombra de sua mãe.
108. Sem saber o que fazer, Miriam então segura o cesto e se ajoelha ao casal, erguendo o cesto para cima, expondo o bebê á luz e permitindo que os pais o enxergassem melhor.
109. Com seus óculos, o homem, chamado Casper, pôde ler o nome “Miriam Azimi” no cachecol do menino, Roxanne mal pôde conter a emoção ao perceber que seria mãe outra vez.
110. Ambos não haviam reconhecido Miriam, pois usava um niqab negro e apenas seus olhos lhe eram visíveis aos demais, mas então Casper percebeu então que se tratava de Kaled.
111. “Zakariya me contou sobre Kaled”, disse Casper. “É o seu filho?”, perguntou Roxanne á Miriam, que lentamente, concordara com a cabeça, ainda prostrada ao casal.
112. Roxanne então segura o cesto com a mão direita em um lado e Casper com a mão esquerda em outro, trazendo enfim o menino Kaled para dentro da pousada.
113. “Um presente de ALLAH”, dissera Roxanne.
114. Casper percebe então que o jipe de seu amigo aguardava a volta de Miriam na rua, e sabendo que o tempo era curto, lhe dissera: “Vamos cuidar bem de seu filho, Miriam”.
115. Roxanne, que havia retirado o menino do cesto, colocando em seu colo, abraça Miriam, que tentava esconder suas lágrimas.
116. Zakariya buzinou, pois também precisava buscar Hannah do hospital.
117. Sem jeito então, Miriam deu um último abraço em Kaled, e enfim, devolveu á Roxanne, correndo pelo pátio e indo até o jipe de Zakariya, abrindo a janela para olhar seu filho pela última vez.
118. E debaixo da luz da entrada, entre duas colunas e dois vasos de plantas, Miriam viu Casper e Roxanne acenando para a família, e Miriam jurou ter visto uma mão de Kaled se mexendo no ar, como se estivesse lhe acenando também.
119. Liza, que chorava muito, acenava para o casal e para Kaled, e Yohannan também acenava, triste e se despedindo de seu primo.
120. E assim fora entregue Kaled á família dos Navid, que viajariam de volta á Teerã dentro de alguns dias.
121. O jipe de Zakariya então partiu pelas ruas de Mexede para buscar Hannah do hospital, e Miriam olhava para trás através da janela e através de seu véu negro.
122. O jipe então sumiu pela noite, e o casal voltou ao seu quarto levando a cesta de mercado vazia e Kaled no elevador.
123. “Parece até que ele veio na hora certa”, dissera Roxanne, que se alegrava com seu novo filho, que ainda adormecia.
124. A porta do quarto então se abre, e prontamente, Roxanne coloca Kaled em cima da cama de casal.
125. A televisão continuava ligada e Roxanne ia desligar com o controle remoto para não perturbar o sono do menino, porém, uma notícia importante estava passando no jornal.
126. Imagens do santuário de Imam Reza, tomado por paramédicos que recolhiam os corpos no pátio e de policiais que prendiam homens de preto, eram exibidas no jornal da noite enquanto um repórter narrava todo o ocorrido.
127. Uma mulher deu seu depoimento, e dizia que “eles matavam as crianças primeiro, e diziam matar no nome Dele”.
128. O atentado era autoria de um grupo radical e partido político fundamentalista chamado “Nação de Deus”, que soubera da existência de um suposto Mahdi e ordenou que procurassem pelo menino e o matassem.
129. “Que tragédia, amor”, dizia Roxanne ao seu esposo, Casper.
130. O jornal exibe então o depoimento de um mullah, conhecedor do Islã, explicando quem era o Al-Mahdi:
131. “Mahdi, em uma conotação mais generalista, é todo indivíduo que segue os ensinamentos do Islã e segue o caminho do bem, sendo assim um exemplo a se seguir. Qualquer fiel que segue o caminho dos justos e da bondade é um mahdi”, afirma o mullah.
132. “O Al-Mahdi, contudo, se refere especificamente ao maior dos mahdis, um descendente do profeta Muhammed que haveria de preceder o juízo final e a vinda do profeta Isa, filho de Maryam”, continou explicando o mullah, “O Mahdi seria então o grande mediador da justiça, trazendo a verdadeira religião universal e a verdadeira bandeira do islã, e todos aqueles que seguirem o ensinamento do Mahdi seriam os escolhidos para a vida eterna e os novos tempos.“
133. O repórter também afirma que a figura do Mahdi é polêmica, religiosamente falando, pois sunitas e xiitas possuem suas divergências em relação á essa figura messiânica.
134. Há tradições do islã onde Mahdi seria, inclusive, um título dado ao próprio profeta Isa.
135. Mas o Mahdi seria alvo de críticas principalmente no cristianismo, visto que muitos associam e confundem o Mahdi ao anticristo.
136. Isto pois, assim como o anticristo, o Al-Mahdi precede a vinda de Isa e seria uma figura caristmática e de liderança, prometendo grandes mudanças ao mundo.
137. O anticristo, contudo, haveria de enganar todos os povos do mundo para mentir e espalhar o caos, e juntamente de Isa, seria derrotado pelo Al-Mahdi.
138. O repórter então faz uma última pergunta ao mullah: “Você acredita que o Mahdi vai retornar? Segundo o que é dito, ele nasceria aqui, em Khorasan.”
139. E calmamente, o mullah lhe respondeu: “Veja bem, não concordo em nada no atentado que se sucedera hoje, estes que juram matar famílias inocentes em nome de Deus certamente não sabem o que fazem. Dito isso, não há de retornar Mahdi algum.”
140. E continuando, o mullah dissera: “Já vieram tantos supostos mahdis á terra, tantas figuras que se autodeclaravam profetas do apocalipse e trouxeram violência em nome de Deus, tantos hereges e profanos, tantos enganadores e falsos profetas. Não tenho fé de que seria diferente.”
141. Enquanto imagens de seguidores do partido “Nação de Deus” saudavam imagens do aiatolá Ruhullah Farfahan, a reportagem explica que o líder do grupo havia expressado sua opinião á respeito dos rumores do Mahdi no dia anterior, afirmando que o Mahdi não haveria de retornar, pois o Mahdi não saberia que era o Mahdi.
142. E ele continuava, dizendo: “Continuaremos a caçar supostos mahdis para lhes ensinar uma lição, ensinar que ninguém há de profanar e causar heresia aos nossos ensinamentos, se colocando em uma posição tão elevada aos demais por pura suposição.”
143. E continuava, dizendo: “Não concordo com toda essa matança e esse derramamento de sangue, mas se essa for a vontade de Deus, assim será feita vossa vontade”.
144. E antes que o líder do partido prosseguisse, a televisão havia, subitamente, queimado e explodido. Casper leva as mãos á cabeça, apavorado, pois a televisão era propriedade da pousada e já sentia seu bolso doer.
145. “Isso vai me custar uma grana!”, dizia Casper, que no desespero, achou um extintor para apagar o fogo da televisão, mesmo que a televisão não estivesse pegando fogo.
146. “Não foi eu! Não sei o que aconteceu!”, disse Roxanne.
147. E realmente, não era obra de nenhum dos dois, pois o verdadeiro autor dessa “acidente” era Kaled.
148. E sem que nenhum dos pais notasse, o brilho vermelho da estrela de oito pontas em sua testa havia se apagado.
149. Eles notaram, no entanto, que o menino havia acordado, e por isso, foram até ele para colocá-lo a dormir.
150. Roxanne lhe carregou em seu colo, e olhando para o bebê, tornou a ficar pensativa.
151. Casper percebera que sua mulher havia se calado, então lhe pergunta: “O que houve?”
152. “Nada, é só que… faz tanto tempo”, dissera Roxanne, que não era mãe faziam muitos anos.
153. Desde a perda que sofreram, Casper e Roxanne viveram a sós em sua mansão, cercada de lembranças da falecida filha.
154. Mas querendo levantar o astral, Casper dissera á sua mulher: “Ele vai fazer muita bagunça quando crescer, nosso lar vai se encher de vida!”
155. Roxanne, porém, ainda ficava pensativa, então Casper percebeu que ela fitava o cachecol de tricô do bebê.
156. “Viu como ela era jovem?”, dissera Roxanne, se referindo á Miriam, que não deveria passar dos 14 anos de idade.
157. “Ela fez o correto”, dizia Casper, “Nenhuma menina está preparada para ser mãe á essa idade”.
158. “Me preocupo com ela, como ela deu á luz?”, dizia Roxanne, temendo que Miriam sofrera abuso de algum aliciador.
159. “Melhor não pensarmos muito nisso”, disse Casper, “O importante é que Kaled terá uma boa vida conosco, e será um menino inteligente e saudável”.
160. E antes que percebessem, Kaled já havia adormecido novamente, com sua cabeçona de bebê pendendo para trás.
161. Para que sua coluna não doesse e seu pescoço não se machucasse, Roxanne endireitou sua postura e o pôs para dormir debaixo de um lençol, e se virando para o lado, o menino abraçava seu cachecol como se fosse um ursinho de pelúcia.
162. Como estava tarde, decidiram por desligar as luzes e ligar o ar condicionado para que dormissem ao lado de seu filho, que adormecia calmamente entre Casper e Roxanne.
163. Por mais alguns dias, Casper e Roxanne jejuaram e oraram enquanto o fim do Ramadã se aproximava.
164. E porque o menino veio em um mês tão sagrado, agradeceram á ALLAH, acreditando ser um presente de Deus pela fidelidade do casal aos seus caminhos.
165. E após algumas viagens turísticas entre amamentações e trocas de fralda, a família Navid arrumou as malas para deixar a cidade de Mexede e retornar para casa na capital do Irã, Teerã.
166. Saindo ao amanhecer, partiram em viagem em seu carro e pararam em um povoado para se alimentar e irem ao banheiro, retomando a viagem e chegando até a cidade grande ao anoitecer.
167. Quando chegaram em Teerã, os pais logo arrumaram as malas e a casa, ajeitando o quarto de Kaled onde antes dormia uma menina, há muito tempo atrás, e Kaled então dormira na cama, novamente com a companhia de seus pais.
168. E com os dois virados para Kaled, ambos lhe deram um beijinho na testa e disseram, ao mesmo tempo: “Boa noite, Kaled”.
169. E assim, Casper e Roxanne se tornaram os pais adotivos de Kaled, e cuidaram de seu filho com amor e carinho em um lar cheio de prosperidade e abundância.
170. E essas foram as palavras do Mahdi aos seus seguidores.
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