1. Assim disse o Mahdi:
2. Após o rito do baleh boran¹, foi realizado então o rito do hana bandan² e todas as mulheres se reuniram na casa de Ilizabith para enfeitar e vestir Miriam para o casamento.
3. Haviam se reunido, além de Miriam, Liza e Hannah, todas as irmãs filhas de Hannah, que eram, ao todo, quatro filhas.
4. Enquanto as meninas conversavam as novidades, as irmãs faziam pinturas de henna nas mãos e nos antebraços de Miriam, e depois, colocavam enfeites e jóias sobre a sua cabeça.
5. As meninas então começaram a cantar as músicas de Siavash Ghomayshi, e depois de finalizarem as pinturas, a maquiagem e a vestimenta da noiva, Zakariya chamara todas as meninas para comerem o bamiyeh que ele havia preparado para o rito do shirini-khoran³.
6. Caso não saiba o que é um bamiyeh, caro leitor, trata-se de um doce muito gostosinho que se parece com churros. O Mahdi adora comer bamiyeh, principalmente os do Egito.
7. Zakariya dissera, animado, que seus doces eram um gesto de amor ao casal, lhes desejando bastante doçura ao casamento.
8. Rindo, Liza diz para Hannah que Zakariya sempre foi muito zeloso pelas tradições da cultura persa.
9. Durante a conversa, Yousef puxava assuntos com o pai de Miriam sobre política e futebol, sobre o aiatolá Farfahan, o presidente Faris e a seleção egípcia, que só perdia para os brasileiros em questão de esportes.
10. Enquanto isso, as garotas se preocupavam com o futuro de Miriam, e uma de suas irmãs, que se sentava á sua esquerda, lhe perguntara se lhe interessava fazer alguma faculdade.
11. “Ela podia fazer direito, que nem a Ilizabith”, dizia uma de suas irmãs.
12. “Ou medicina, quem vira médico sempre fica rico”, dizia outra de suas irmãs.
13. Miriam então dissera: “Penso em estudar em Teerã, pois sempre quis ser professora de uma escola.”
14. Uma outra irmã, que se sentara á sua direita, perguntou lhe então se ela gostaria de ser professora de alguma matéria em específico, e pensativa, Miriam diz que gosta de história e geografia, pois quer conhecer o mundo e entendê-lo melhor.
15. “Você vai precisar estudar bastante para isso”, dizia sua irmã à direita.
16. “Claro, e eu já sei onde quero estudar”, dizia Miriam, “no mesmo lugar em que Liza estudou!”
17. “Fardowsi?”, perguntou Liza, enquanto comia um bamiyeh, “Isso não vai ser fácil.”
18. “Mas se ela quiser conhecer o mundo, você deve viajar bastante, então”, dizia a irmã de Miriam à sua esquerda.
19. Miriam então continua, “É verdade, eu quero saber bastante sobre o mundo antes de sair ensinando para as outras pessoas.”
20. “E para onde você quer viajar?”, perguntou sua irmã á direita.
21. E pensando um pouco, Miriam listou os países que gostaria de conhecer: Índia, China, Marrocos, Egito, Líbano, Síria, Brasil e Cazaquistão.
22. “Cazaquistão?”, perguntaram as duas irmãs ao mesmo tempo.
23. “Oras, tem muita coisa legal lá”, disse Miriam.
24. “Tipo o quê”, perguntou uma das irmãs, “Tipo montanhas, florestas, rios… a natureza de lá é muito linda”, respondeu Miriam.
25. “E no Brasil o que é que tem?”, perguntou outra das irmãs.
26. “Não sei ao certo”, disse Miriam, “Só sei que lá tem a maior floresta do mundo e muitos animais bonitos, então seria muito bom de visitar.”
27. “Mas quando for viajar pelo mundo, vê se não esquece da gente!”, diz Liza para Miriam, rindo.
28. “E nem de mim, viu?”, disse Yousef, do outro lado da mesa, e esboçando um sorriso fingido, Miriam diz que vai levar seu marido sim.
29. Vendo aquela cena, as irmãs sussuram no ouvido de Miriam: “O que foi? Não acha ele bonito?”, perguntou uma das irmãs.
30. “Sim! Ele é muito velho e feio!”, respondeu Miriam.
31. “Mas pelo menos ele é rico?”, perguntou outra irmã.
32. “Ele pagou as jóias, mas eu não sei com o quê ele trabalha”, respondera Miriam.
33. “Ele é artesão”, disse Liza, mas Miriam diz: “Sei, mas ele faz o quê? Mesas? Cadeiras?”
34. “Vou perguntar para ele agora mesmo”, disse uma das irmãs, e antes que Miriam disesse para ela parar, a irmã perguntou à Yousef o que ele faz da vida.
35. Um pouco feliz e demonstrando interesse na pergunta, Yousef prontamente responde a questão: “Eu faço pulseiras e cordões! Inclusive, estou vestindo alguns agora mesmo.”
36. “Uau…”, respondera a irmã de Miriam.
37. E encerrando abruptamente o bate-papo sobre Yousef, Miriam continuou a comer os bamiyeh feitos por Zakariya, até que sentiu vontade de ir ao banheiro.
38. Rapidamente, Liza se levantou para ajudá-la. Seu marido perguntou o que houve e Miriam diz que vem sentindo fortes cólicas, e então, ele permite que as duas deixem a mesa.
39. Hannah vai até Miriam para perguntá-la se ela precisava de alguma coisa da mãe, mas Liza diz que já vai cuidar de isso e sua irmã provavelmente só estava de estômago fraco.
40. Hannah então volta à mesa para continuar conversando com seu marido e os demais.
41. Miriam pôde ver Yousef lhe encarando com desconfiança conforme caminhava até o banheiro da casa.
42. Miriam não soubera o que se sucedera na mesa quando a deixou, e por isso, eu, Ramakrishna, também não tenho como saber o que se sucedera naquela mesa.
43. O Mahdi sabe, no entanto, que Liza ajudou Miriam a acobertar sua gravidez precoce da família, para protegê-la tanto das conversas maldosas e maus olhados quanto da lei xária do aiatolá do país.
44. Bem sabia, Liza, que se descobrissem que Miriam estava grávida de seja lá quem fosse, poderia ser punida de acordo com a lei xária, e Liza bem sabia que o aiatolá não poupava nem mesmo meninas menores de idade.
45. Liza não falava dessas questões jurídicas para Miriam, pois não queria assustá-la, mas por ser formada em direito e conhecer a lei do país, sabia que o casamento era um álibi para Yousef.
46. Afinal de contas, seria muito difícil provar que a gravidez não seria consentida se Miriam estava casada com Yousef, pois houve permissão entre ambas a família de Miriam e a família de Yousef.
47. Mais dificultoso seria então se o filho não fosse mesmo de Yousef, como Liza desconfiara, o que encaixaria Miriam como adúltera.
48. Se Miriam apenas se livrasse do bebê, como ela desejava, tudo estaria resolvido. Desde que ninguém soubesse, principalmente o aiatolá, Miriam não estaria cometendo nenhum crime.
49. Miriam, porém, desistiu de tantas tentativas ao perceber que de nada adiantavam seus esforços, apenas aceitando a gravidez e planejando algo a se fazer com seu filho após o nascimento.
50. Miriam planejava em levá-lo para ser cuidado em segredo por alguém da família, mas não daria certo.
51. Planejara levar até algum orfanato, mas não havia mais espaço em nenhum lugar do país.
52. Se culpando por isso, Miriam havia considerado até mesmo matá-lo.
53. No banheiro, Miriam pergunta para sua irmã se ela está feliz com sua decisão de manter o bebê, afinal, era o que Liza queria.
54. Liza, porém, se vê cada vez mais derrotada ao considerar demasiadamente o feto dentro da barriga e não ponderar sobre o bebê após o parto.
55. Liza, que tanto se opusera ao aborto do bebê, não sabia o que fazer com o bebê quando nascesse. De repente, o aborto não era uma escolha tão cruel, olhando para as outras opções.
56. Tão bem versada na lei, Liza bem sabia que Miriam era inocente e não havia feito nada de mal, mas perante á justiça, Miriam era adúltera e promíscua enquanto seu bebê estivesse vivo.
57. Naqueles meses, ou Miriam se livrava de seu bebê e vivia ou ela era apedrejada, morrendo tanto ela quanto o bebê.
58. Não haviam muitas escolhas para manter o bebê vivo, senão em uma vida nas sombras e na ilegalidade, uma vida que Miriam bem sabia ser injusta para seu filho.
59. Yousef jamais o aceitaria, da mesma forma que Hannah tardou a lhe aceitar.
60. Miriam sabia, por experiência própria, que se fosse para a criança vir ao mundo pobre e sem rumo, teria sido melhor não ter nascido.
61. Tão versada na lei, Liza bem sabia que Miriam enfrentava a maior das injustiças, mas as coisas são como são, como ela sempre dizia.
62. A lei diz o que é legal e ilegal, e qual lei a mais poderosa senão a lei de deus?
63. Era bem menos sobre deus e religião e muito mais sobre política e poder, bem sabia Liza.
64. Também sabia Liza que a política ganhava maior poder com a força da religião.
65. E com Miriam finalmente terminando de vomitar no vaso sanitário, Liza abre a porta do banheiro e dá de cara com Yousef. Aparentemente, ele estava ouvindo a conversa na porta.
66. “Posso saber o que está havendo?”, dissera Yousef para Liza, que disse que estava cuidando de sua irmã e era coisa de mulher.
67. Yousef, porém, viu Miriam chegando e lhe abraçou, querendo lhe consolar das dores que ela sentia.
68. Liza prontamente chegou com um copo de água para dar á Miriam e ela deixa de abraçar Yousef, que se sentira trocado por Liza.
69. Miriam bem sabe disso pois contou ao Mahdi que Yousef era um homem um tanto inseguro de si.
70. E Liza conseguira convencer à todos da família que os doces de Zakariya não faziam muito bem para Miriam.
71. Se não fosse pela ajuda de Zakariya, que acrescentou sobre um condimento que usava em todas as suas receitas que, de fato, realmente causava reação alérgica á Miriam, a história não teria tanta sustentação para se manter de pé por tanto tempo.
72. Afinal de contas, melhor uma meia verdade do que uma mentira.
73. E no mesmo dia, havia então de se iniciar o ritual do sofreh aghd⁴, o casamento propriamente dito.
74. As irmãs e irmãos de Miriam não pouparam esforços para montar o quintal para organizar um lindo banquete ao ar livre.
75. Um termeh foi colocado no centro por cima de vários tapetes coloridos em cima de um gramado, e por cima do termeh, o espelho prateado e os candelabros tragos pelo pai de Miriam foram bem dispostos entre vasos de flores e adornos.
76. E por todos os tapetes, Liza, Zakariya e os irmãos e irmãs de Miriam colocavam cuidadosamente os pratos com doces e refeições para o grande banquete.
77. Um dos alimentos de destaque foi o pão abençoado, que havia sido preparado por Zakariya e continha uma caligrafia cuidadosamente desenhada por um dos irmãos de Miriam.
78. E no pão abençoado estava escrita a mensagem: “felicidades ao casal.”
79. O último objeto a ser disposto era um livro sagrado em cima do termeh, e este último item gerou uma ocasião inusitada.
80. O pai de Miriam havia posto o alcorão aberto na surate 2 versículo 187 em cima do termeh. Um dos irmãos de Miriam, contudo, pôs o avesta logo ao lado do alcorão.
81. O pai mal pôde conter a incredulidade, afirmando que dois deuses não poderiam abençoar um casamento. Zakariya, contudo, interferiu na cena, afirmando que, quanto mais deuses, mais bençãos.
82. E é claro que Zakariya quis dizer esta frase no sentindo de mais tradições e culturas unidas, ao invés de mais divindades, de fato. Aqui esclareço eu, Ramakrishna, por aconselhamento do Mahdi, antes que algum leitor interprete este versículo de forma errônea. Sei bem que isso poderia acontecer porque Pedro acabou de me fazer a mesma pergunta.
83. E assim, se sucedera então o casamento de Miriam e Yousef, cujo foi assistido por mais de 40 convidados.
84. Bela e esplêndida como a luz do pôr do sol, Miriam caminhava com seu vestido, seus adornos, seu véu e suas pinturas de henna em direção ao espelho prateado no sofreh.
85. Ao chegar até o sofreh, Miriam então fica de joelhos para tirar o véu e se olhar no espelho.
86. Mesmo Miriam um tanto abatida com toda a situação com o bebê e o casamento forçado, Miriam não pôde negar que se sentiu lisonjeada e admirada com toda aquela cerimônia.
87. E olhando sua própria imagem e semelhança no espelho prateado entre velas acesas e vasos de flores, Miriam enxergou em si mesma uma mulher forte e sábia, uma mulher abençoada e capaz de enfrentar todas as adversidades.
88. Mais do que um ritual de união entre Miriam e um homem qualquer, Miriam enxergara no casamento um ritual de passagem para uma nova vida, percebendo, ao desvelar do véu, que não era mais a mesma garota de antes.
89. O casamento é então concluído com toda a pompa e cerimônia, e uma festa de celebração é realizada na casa de Hannah logo depois.
90. Na festa, os irmãos e irmãs cantavam e dançavam, enquanto as crianças mais novas brincavam na rua.
91. E mesmo Miriam e Yousef sendo os protagonistas da festa, era Yohannan quem mais chamava demasiada atenção aos convidados penetras.
92. Homens e mulheres se reuniam em volta da pequena criança, que embora tão jovem, aparentava ser tão destemida e corajosa, não chorando á toa por nada.
93. As mulheres apontavam para seus longos cabelos e profetizaram como seria irresistível e belo.
94. Já os homens apontavam para seus braços e profetizaram como seria imbatível aos seus inimigos.
95. Felizes, Liza e Zakariya erguiam seu filho ao alto, entoando glórias e aleluias para o Todo Poderoso, e afirmava que o Mahdi era persa e muçulmano.
96. “ALLAH é o maior!”, “ALLAH é o grande!”, celebravam os convidados, que já haviam se esquecido de quem era a celebração, afinal.
97. Se aproximara então Yousef até Miriam, que observava seu sobrinho sendo exaltado e praticamente idolatrado por todos os convidados.
98. Se aproximara então Yousef até Miriam, que observava seu sobrinho sendo exaltado e praticamente idolatrado por todos os convidados.
99. “Seu sobrinho virou uma estrela, não é mesmo?”, dizia Yousef, e continuava: “Tem muitos turistas da Europa vindo para cá só por causa dele.”
100. Confusa, Miriam pergunta ao homem: “Mas por quê? Aqui em Mexede?”
101. “Ora, seu nome está inscrito no pedaço de parede mais famoso do mundo!”, afirmara Yousef, referindo-se á obra de arte urbana exibida no British Museum, obra de Zakariya.
102. “E estão vindo para cá só por causa dele?”, disse Miriam.
103. “Oh, mas é claro, bela esposa!”, ele dizia, “Tal como a vinda de um novo papa no vaticano, a vinda de um novo Mahdi é muito importante, principalmente aqui, na cidade mais santa do país!”
104. E assistindo toda aquela celebração, que para os estrangeiros parecia tão especial, Miriam acreditava ser deveras banal.
105. Quem se alegrava era Yohannan, que começou a dar soquinhos ao vento como se fosse um super-herói, e os estrangeiros em volta aplaudiam as brincadeiras do menino.
106. Yousef então dera continuidade à conversa:
107. “Certamente, os filhos prometidos por Deus serão grandiosos, e seus feitos realizados para engrandecer o Seu nome”, ele dizia.
108. “É, sei lá”, dizia Miriam.
109. “Já os filhos de uma relação adúltera, que Deus tenha misericórdia, condenados a viver desamparados pelo mundo”, ele falava, e Miriam estranhara essa sentença.
110. “Não é mesmo, minha mulher?”, disse Yousef, encarando Miriam.
111. “’Não é mesmo’ o quê?”, ela dissera, confusa, para Yousef.
112. “Você sabe muito bem do que eu quero dizer”, e ele se aproximava mais e mais de Miriam, lhe trazendo um grande desconforto.
113. “Quando eu me propus para seu pai, Hannah não confiava muito em minha índole”, ele dizia, encarando fixamente nos olhos de Miriam, “Acreditava que não seria o homem certo, no tempo certo de sua querida filha. Mas eu jurei no nome do Altíssimo, no nome do Senhor, o nome que não se jura em vão, que eu nunca lhe faria nada de mal.”
114. Miriam lhe encarava de volta, sem saber como reagir.
115. “E assim eu mantenho minha palavra, que é sagrada e fiel. Não sei se digo o mesmo para você, minha esposa”, ele falava para Miriam, e percebera que Liza observava os dois.
116. “Eu… eu não fiz nada”, disse Miriam para Yousef.
117. “Tão jovem e cedendo aos desejos carnais, que Deus lhe perdoe, pois não sabes o que faz”, ele dizia para Miriam.
118. “Eu não farei nada, só me manterei fiel á minha palavra”, dissera Yousef, “Não vou permitir que pensem o pior de mim, que eu tenha feito qualquer pecado do mais hediondo com uma garota tão jovem!”
119. Os dois então ficaram em silêncio e afastaram os olhares por um tempo, pois Yousef notara que Liza estava olhando atentamente para os dois.
120. “Se você estiver mesmo grávida, isso acaba agora”, dissera Yousef, se afastando de Miriam, “Não vou continuar me relacionando com uma adúltera”.
121. E Yousef fora embora, deixando Miriam sozinha com seus pensamentos.
122. Mesmo não amando Yousef, ou sequer se importando com ele, suas palavras lhe machucaram, e um sentimento de culpa lhe invadiu seu ser.
123. Miriam pôde ver Zakariya preocupado com a alta aglomeração de convidados, pois os quitutes que havia preparado não eram suficientes e muitos convidados não receberam convites.
124. Além de se sentir sozinha, mesmo casada, e substituída na própria festa, Miriam não gostava de tanto barulho. Por isso, sentou-se na calçada do lado de fora da casa para cuidar das crianças e ver os carros passando na rua.
125. E Miriam observava Yohannan brincando de futebol com as outras crianças na rua, e notara também que suas irmãs conversavam ali perto.
126. Uma das filhas de Hannah então se aproxima para conversar com Miriam:
127. “Então, o que está achando da festa?”, ela diz.
128. “Animada, só estou com um pouco de dor de cabeça”, responde Miriam.
129. “Irmã, vem cá, você realmente quis se casar com aquele cara?”, ela lhe perguntou.
130. “Não, eu não quero me casar com ninguém agora”, respondeu Miriam.
131. “Então por que aceitou o pedido?”, ela pergunta.
132. “Meus pais aceitaram o pedido por mim”, responde Miriam, “Yousef estava atrás de mulheres para se casar, mas ninguém queria se casar com ele”.
133. “Então ele foi se casar contigo?”, ela pergunta.
134. “Pelo menos ele tem dinheiro, então não deve ser tão ruim”, disse Miriam.
135. A irmã então lhe diz: “Dinheiro algum vai comprar o amor, Miriam”.
136. Miriam se mostra pensativa, mas então, ela se levanta para mandar as crianças saírem da rua, pois um carro estava passando.
137. Eis então que chega Liza para olhar Yohannan, e vendo seu filho se jogar no meio da rua, ela gritara para que Yohannan não corresse para não se machucar.
138. Liza então nota a presença de Miriam, perguntando se Yousef lhe dissera alguma coisa, e temendo pela ameaça de Yousef, preferiu por não contar o que ouvira para sua irmã, dizendo-lhe que só estavam conversando sobre o casamento.
139. Aliviada, então, Liza se aproxima de Miriam, pois quer lhe entregar algo.
140. “O que é?”, disse Miriam, já sorrindo de ansiedade.
141. “Feche os olhos”, ela disse para sua irmã.
142. “Não pode espiar!”, disse Liza, passando a mão no rosto de Miriam para garantir que ela não olhasse nada.
143. Impacientemente, Miriam ficou de olhos fechados, esperando seja lá o que Liza fosse lhe entregar de presente.
144. “Já?”, disse Miriam, “Ainda não!”, disse Liza, e mais alguns segundos agonizantes de espera se seguiram.
145. “Agora sim”, disse Liza, e quando Miriam abriu os olhos, não viu nada de especial.
146. Quando olhou para os lados, porém, viu que estava vestida com um belo cachecol quentinho de tricô, e Miriam mal pôde conter sua felicidade com um presente tão sincero.
147. “Oh meu Deus! É lindo!”, dizia Miriam, e Liza sorria de alegria ao saber que sua irmã havia gostado do presente.
148. “Mas o inverno já passou!”, disse Miriam, “Você comprou no shopping?”
149. E Liza lhe respondeu: “Não, este cachecol foi feito pela minha mãe, é um presente de nós duas para você”.
150. E passando as mãos pelo cachecol, Miriam percebeu que havia uma mensagem em bordado: “Felicidades para Miriam Azimi”.
151. “A sua mãe gosta de mim?”, perguntou Miriam, e após Liza balançar a cabeça em afirmação, ela lhe diz: “Eu não parava de contar sobre você para ela“.
152. Miriam lhe abraça um abraço quentinho, lhe agradecendo pelo presente.
153. “O que seria de mim sem você, Ilizabith.”
154. Oh, louvado seja Deus por trazer uma amizade tão sincera entre irmãs! Aqui vos digo Ramakrishna. Até Pedro derramou uma lágrima de seu olho!
155. Dias e noites se passam após a anunciação do casamento de Miriam, e durante todo este tempo, Miriam e Hannah dividiram o lar com Yousef.
156. Miriam, porém, não ficava sempre em sua casa, pois como era de costume, ela sempre visitava a casa de Liza, e Liza também visitava a casa de Miriam.
157. Miriam passou a vestir um niqab negro cada vez mais longo, parecendo uma freira, para esconder sua gestação avançada, cada vez mais aparente.
158. E com a ajuda de Liza, tomou remédios que aliviavam seus sintomas e dores.
159. Para sua proteção e proteção do bebê, Miriam teve de causar uma boa impressão à todos na família, fingindo cada vez mais gratidão e felicidade por ter Yousef como seu esposo, abraçando-o e sorrindo para ele.
160. E todos na família se alegravam com a repentina mudança de personalidade de Miriam, afirmando que o casamento havia lhe transformado em uma nova mulher.
161. No secreto, porém, Miriam se enojava por fingir ser alguém que não era, mas sabia que tudo era para seu próprio bem.
162. Rezava para ALLAH para que seu segredo fosse mantido, e assim se manteve durante toda sua gravidez.
163. Em total sigilo, sem que mais ninguém soubesse, Liza levara Miriam e seu filho em seu carro até o hospital de Mexede para fazer um exame de ultrassom, afim de descobrir o gênero da criança.
164. A imagem vista no aparelho jamais foi desvista por Liza.
165. O bebê não estava virado para cima, e sim para o lado, então a visão dos olhos e do cérebro do menino não foram lá muito positivos para as mães.
166. No aparelho de ultrassom, Miriam viu o seu bebê e descobriu que se tratava de um menino, mas além disso, pôde notar uma estrela de oito pontas desenhada em sua testa.
167. O enfermeiro que realizava o exame também demonstrou preocupação, não sabendo se o octograma fora formado por uma deformidade muito rara no crânio ou se fora deliberadamente marcada na testa do bebê, de alguma forma.
168. Ao ver a estrela de oito pontas, logo Miriam se recordou de seu pesadelo, e somado às várias tentativas frustradas de aborto, Miriam temia cada vez mais que seu filho fosse uma aberração da natureza.
169. Yohannan, porém, saiu do colo de Liza e começou a abraçar a barriga de Miriam.
170. Liza, querendo brincar com a situação, disse que Yohannan já queria conhecer o seu priminho.
171. E miraculosamente, o útero de Miriam começou a brilhar uma luz intensa que revelou a silhueta do neném dentro de sua barriga.
172. O enfermeiro que realizava o exame acabou se assustando e quase derrubou o aparelho atrás dele.
173. Yohannan começou a rir e gargalhar, Miriam e Liza não sabiam como reagir.
174. E através de um voto de sigilo entre as mães e o enfermeiro, ninguém soubera o que se sucedeu naquele dia até então.
175. Aos nove meses de gestação, o nascimento do menino seria inevitável, um menino até então sem nome e sem pai, e provavelmente, sem mãe.
176. E essas foram as palavras do Mahdi aos seus seguidores.
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