KALED É O MAHDI!

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III. O Pavão

1. Assim disse o Mahdi:

2. No tempo de Ali Qasim, havia uma doce e bela menina iraniana da família dos Azimi, cuja habitava nos arredores da cidade de Mexede.

3. Por baixo de seu véu, seus cabelos eram negros, sua pele era retinta e seus olhos claros como a luz do luar. Seu nome era Miriam¹, e era uma menina temente à ALLAH.

4. E quando era jovem, Miriam amava brincar com bonecas de pano com suas amigas. Se imaginava uma mãe com um esbelto esposo e filhas tão divertidas e juvenis como ela era em sua infância.

5. Com a chegada da puberdade, Miriam recebe um esposo, mas não da forma como imaginara.

6. Em troca de seu amor, foi-se entregue à família de Miriam 30 moedas de prata, o que acreditaram suficiente para comprar seu romance.

7. O nome do noivo de Miriam era Yousef², um homem cuja índole não pode ser expressada por palavras. Não por ser um bom homem ou um homem mau, mas pelo fato de ser um homem que não fede e nem cheira.

8. E seguido o rito do khastegari, o amor da jovem Miriam foi prometido à Yousef, pois era chegado seu tempo de iniciar uma nova família ela própria.

9. Miriam, contudo, não se sentia preparada para ser mãe. Pelo menos, não com Yousef.

10. O casamento de Miriam então havia de chegar, e a família de Miriam regozijava de felicidade, mas Miriam se sentia triste e desamparada.

11. E o pai repreendia a postura de sua filha: “Por que te entristeces, filha minha? O casamento é uma benção de ALLAH. Tudo havia sido preparado pelos planos do destino.”

12. Mas Miriam respondera ao seu pai: “Ele é demasiado desprovido de beleza, ó pai. Não me condenes à tamanha sentença para com minha pessoa.”

13. Pensando melhor, não creio que Miriam se comunicasse de maneira tão formal. Por recomendações do Mahdi, de agora em diante, irei escrever os diálogos de Miriam de forma um pouco mais descontraída. Assim diz Ramakrishna.

14. Não posso desfazer o que escrevo eu nestes papéis, pois utilizo caneta permanente e possuo poucas folhas A4. Bem deveria ouvir Pedro e utilizar um computador. Tolo Ramakrishna, tolo.

15. E seu pai ordenava que Miriam vestisse uma enorme burca negra, pois segundo seu pai, seu singelo hijab não lhe cobria o corpo o suficiente.

16. Sua esposa, chamada Hannah, a mãe de Miriam, contudo, perguntava a necessidade de Miriam utilizar uma burca, “Vossa filha é muito jovem, ó louco esposo!”, dizia Hannah.

17. Justificando-se, o pai de Miriam explicava: “Ora, não vê como vossa filha agora tem se tornando uma verdadeira mulher, minha esposa? Miriam agora sangra, seu quadril se alargou e seus seios se avolumaram.”

18. E continuando, o pai de Miriam dizia: “O que há de errado, ó mulher, em proteger vossa filha dos maus olhares carnais dos homens, que encaram nossa filha nas ruas a cobiçando com os olhos?”

19. Hannah abaixava a cabeça, aceitando a explicação de seu marido, emboa não deixasse de achar tal explicação muito vaga. “Se os homens cobiçam minha filha quando caminha pelas ruas de Mexede, que os homens arranquem seus olhos!“, pensava Hannah.

20. Mas a mãe de Miriam não poderia questioná-lo, pois era submissa ao seu marido, e tal como Lilith desafiando Adão, desafiar seu marido era uma grande heresia.

21. Ao menos, de acordo com o que acreditavam acreditar.

22. E seguindo as ordens do pai, Miriam seguia as ordens da mãe, e colocara um enorme burca negra sobre seu corpo. Apesar de cobrí-la por inteiro, ao menos Miriam se protegia do calor e da areia.

23. Então a família de Miriam aprontou-se até a casa de Ilizabith³, a irmã mais velha de Miriam, andando em uma motocicleta XLR320. O pai de Miriam realiza manobras como um “grau” na moto, o que assustava Miriam e sua mãe por uns breves momentos.

24. E Hannah perguntara ao seu esposo como havia adquirido a motocicleta, pois eram pobres e passavam perreio.

25. Prontamente, o pai de Miriam respondera a sua pergunta: “Ora senão com as 30 moedas de prata que recebi da família de Yousef, o esposo de vossa filha?”

26. E Miriam fechara sua cara, sentido o amor de seu pai trocado por uma moto e o seu amor à Yousef por 30 moedas de prata.

27. Por baixo da burca, Miriam olhava para os homens mais velhos, que jogavam cartas, erguiam casas sem reboco e acompanhavam suas esposas, e como previsto por seu pai, não mais os homens lhe cobiçavam com os olhos.

28. Pela distância, Miriam pôde enxergar sua irmã, Ilizabith, lhe acenando sorridente e aguardando sua chegada na varanda de sua casa, por trás de muros de cimento com cacos de vidro. Ao seu lado estava seu fiel esposo, Zakariya, e em seu colo carregava seu único filho, Yohannan⁴.

29. Desde a última vez que Miriam havia visitado sua irmã mais moça, Yohannan era apenas um lindo bebê de pele macia. Nos preparativos do matrimônio, contudo, o filho de Ilizabith já andava em duas pernas e arriscava algumas palavras.

30. Descendo da motocicleta, Miriam prontamente abraçara Ilizabith, cuja lhe chamava carinhosamente de Liza. Havia um bom tempo em que as duas não haviam se visto, pois Liza e sua família moravam em outra cidade além da fronteira.

31. Liza, contudo, decidira construir uma casa nova na cidade de Mexede com a ajuda de Hannah para conviverem juntos como uma grande família e criar seu filho, Yohannan, junto com seu avô, sua avó e sua tia.

32. E Miriam dizia à sua irmã que ela estava diferente, mais velha e beirando seus 30 anos, e apesar de algumas rugas na testa e nos olhos, Liza continuava linda e esbelta como as flores do amanhecer.

33. Sorrindo, Liza tentou retribuir os elogios de sua irmã caçula, mas olhou de cima para baixo e só enxergava uma burca que lhe cobria da cabeça aos pés, não podendo avaliar a beleza de sua bela irmã Miriam.

34. Mas ao olhar atentamente, hesitando por um momento, Liza encontrou nos olhos de Miriam a fonte de toda sua beleza e valor. “claros como a luz do luar, continuam tão brilhantes quanto antes”, dizia Liza, sorrindo, e as duas irmãs caíam em risos.

35. Descendo as escadas da casa logo atrás de Ilizabith, Zakariya cumprimentara Miriam e seus pais, carregando Yohannan no colo, que estava agitado para ver sua titia. Zakariya os convidava para entrar dentro da casa, onde uma refeição da tarde aguardava toda a família.

36. E rindo, Miriam carregara Yohannan no colo, lhe dando carinhos na cabeça, percebendo logo então que Yohannan, apesar de muito novo, já possuía muitos cabelos na cabeça.

37. Liza ria, dizia que, nessa característica, não herdou de seu pai, Zakariya, que já sentia seus cabelos caindo da cabeça, com a idade.

38. Zakariya participou das brincadeiras: “Desse jeito, Yohannan vai ficar com uma barba enorme!”, e querendo impressionar sua tia, Yohannan mostra seus brinquedos à ela.

39. Miriam não sabia bem o que dizer, pois quando era criança, brincava apenas com bonecas de pano, mas fingindo surpresa e animação para agradar o sobrinho, ela fica empolgada com os carrinhos e soldados de brinquedo no chão.

40. E Yohannan imitava barulhos de tiros e explosões com os brinquedos. Yohannan levou uma pistola de água para a mão e apontou para Miriam. Apertando o gatilho, não havia água, mas mesmo assim, Miriam fingiu um desmaio e caiu de olhos fechados no chão, garantindo a vitória de Yohannan sobre sua tia Miriam.

41. Liza observava a cena, e receosa, tentava esconder um medo irracional, ao olhar todas os carrinhos, soldadinhos e arminhas de brinquedo largadas no chão. Apoiando sua mão no ombro de sua esposa, Zakariya lhe consolava: “São apenas brinquedos”, ele dizia.

42. Enquanto Miriam se distraía com Yohannan, os seus pais se sentam em uma mesa redonda para conversar com Liza. Em um salto, Zakariya diz que vai buscar a comida que havia preparado para os hóspedes, seus sogros.

43. O pai de Liza logo expressa um pensamento retrógrado, dizendo que Liza é quem deveria preparar a comida e ficar na cozinha, mas sua filha explica que à Zakariya lhe agrada a culinária e a gastronomia, o que Hannah acha interessante.

44. O Mahdi gostaria de esclarecer que contar a história de sua família é de suma importância para o entendimento de sua vida e seus ensinamentos, e complementa, dizendo que o livro não contém “partes importantes”, pois tudo é importante.

45. Aguardando a refeição de Zakariya, Hannah perguntara à Liza à respeito do motivo que lhe fez sair da cidade de Kandahar, além da fronteira. Sem muitas palavras, e ao mesmo tempo, com muitas palavras entaladas na garganta, Liza respondera: “foi melhor para nós retornarmos para o vilarejo de nossos pais”.

46. Observando seu filho, Yohannan, brincando com soldadinhos e arminhas de brinquedo, Liza reflete sobre todas as mortes que ocorreram na cidade, mortes ocasionadas por forças estrangeiras que invadiram o solo afegão sem mais nem menos.

47. Desabafando com os pais, Liza relata a vida em um país em colapso e sem lei, onde vários grupos, radicais ou não, tentavam tomar o controle de uma nação, todos ao mesmo tempo.

48. “Barricadas eram formadas nas ruas, pedágios improvisados restringindo quem entrava e quem saía, e a lei xária, cada vez mais rígida, controlava o que as mulheres poderiam ou não fazer”, respondera Liza, olhando nos olhos de seu pai e de Hannah, comovidos.

49. Apesar da revolução do aiatolá e das guerras do passado, o Irã vivia um período momentâneo de paz e caminhava para um mundo mais secular e menos fundamentalista. Apesar de alguns problemas, valia mais a pena viver junto da família e longe dos tiroteios.

50. Liza segurava as lágrimas para não expor seus traumas, justo nos preparativos do matrimônio de sua irmã, ao lembrar que os filhos de suas vizinhas haviam sido mortos por mísseis estadunidenses e temer que o mesmo acontecesse com Yohannan.

51. Liza era temente à ALLAH, e ele a protegeu durante todo seu tempo em Kandahar e sua viagem de volta ao Irã. Em ALLAH, Liza encontrou sua fortaleza e sua força, pois sem ALLAH, se sentia sozinha e desamparada.

52. E um silêncio opressor é instaurado na mesa.

53. A fim de quebrar o silêncio, Zakariya contava histórias heróicas de superação e sobrevivência no ambiente hostil em que viviam, como as várias vezes em que salvou a vida de seu filho e sua mulher. “Allahu akbar”, dizia Hannah.

54. Miriam, que estava brincando com Yohannan, fingia não ouvir as histórias de sua irmã. Porém, ao ver Yohannan jogando um foguete espacial na direção de um soldadinho, ela imaginou um míssel de verdade, matando famílias inocentes.

55. Imaginou mísseis caindo em hospitais, em campos de refugiados, em escolas e em templos sagrados. Imaginou o fedor dos corpos de crianças e dos vira-latas pisando em poças de sangue. Sua irmã, mais do que ninguém, havia retornado do inferno, e era forte para poder se manter de pé.

56. A fumaça sufocante dos incêndios e combustões do campo de batalha na imaginação de Miriam logo se tornou realidade através dos avisos de Hannah à Zakariya, pois a refeição queimava no forno da cozinha. Prontamente, Zakariya deixou o recinto para buscar a comida.

57. Zakariya então trazia sua refeição fresca do forno, pedindo para que todos na família se servirem, chamando Miriam para se juntar à mesa.

58. Eis então que ouviram a campainha tocar, pois chegava o noivo e futuro esposo de Miriam, Yousef, um homem barbudo que trabalhava como artesão. Sendo recebido pela família, Yousef cumprimentava seus sogros e sua cunhada com abraços e beijos.

59. E Yousef, vendo Miriam brincando com Yohannan, sorria. “Ela é mesmo boa para cuidar de crianças, é mesmo uma mulher para se casar!”, dissera Yousef, enquanto lhe dava um tapinha nas costas.

60. Miriam, contudo, fechava a cara com as palavras de Yousef. Ninguém da família notara sua súbita mudança de expressão, exceto por Liza, que conseguia enxergar o sentimento de sua irmã por baixo do véu.

61. Prontamente, o pai de Miriam e Liza mudara de assunto: “Mas então? Estamos aqui para comemorar o matrimônio de minha filha, não é mesmo?”, e ele profere essas palavras com alegria, que contagia as outras pessoas em volta da mesa, apesar de Liza ainda sentir um pouco de pena de Miriam.

62. Liza perguntara à Yousef: “Não crê que minha irmã seja muito jovem para essas coisas de casamento?” E rapidamente, Yousef dizia que pretendia ter filhos, muitos filhos, quando ela estivesse mais moça.

63. Mas enquanto Miriam estivesse compromissada com Yousef, ele teria garantia de que a menina não se relacionaria com mais ninguém.

64. Interferindo na conversa entre os dois, Hannah dissera: “Ora, Liza. Quando casei-me com seu pai, pela graça de ALLAH, eu também era mais moça e mais jovem que ele, alguns anos mais velha que Miriam”.

65. Mas Miriam não acreditava que isso justificava qualquer coisa. Em seu pensamento, homens muito velhos só decidem se casar com crianças quando nenhuma mulher de verdade gosta desse homem, pensamento este compartilhado pelo próprio Mahdi.

66. Em seus pensamentos, Miriam se sentia injustiçada e aprisionada, não podendo questionar a lei xária, seu pai ou sua mãe. Ela pensava consigo mesma: “Em Teerã, as mulheres não precisam vestir burca, nem no centro de Mexede. Por que eu devo seguir essas regras idiotas?”

67. O Mahdi conhece os pensamentos de Miriam, pois assim disse Miriam ao Mahdi.

68. Como bem recorda o sábio Mahdi, citando uma passagem do sagrado alcorão, um matrimônio só deveria ser realizado através do compromisso, a dedicação e o consentimento de ambas as partes, pois toda expressão de amor se recebe e se entrega.

69. E onde há amor em uma relação onde o homem conversa e a mulher não lhe responde de volta?

70. E assim diz o Mahdi: “Em verdade vos digo, em toda relação onde não há o consentimento, estabelecendo a aliança do casal, não há a benção de ALLAH derramada sobre essa relação. Enganam-se vocês, homens de má índole, ao acreditar em um amor construído pelo egoísmo e pelo desejo“.

71. Assim disse o Mahdi, eu registro, Ramakrishna, testemunha da palavra do Mahdi.

72. Hannah havia então se casado com seu marido em uma idade igualmente precoce, tal como Miriam se casaria com Yousef.

73. Mas quanto ao tempo em que Liza decidira casar-se com Zakariya e dar a luz ao seu filho, ela dissera: “Yohannan foi concebido e consagrado no tempo de ALLAH, a hora certa, mesmo durante a guerra e a idade avançada. Pois quando o anjo lhe conversa contigo no secreto e revela os mistérios de ALLAH, o seu chamado deve ser atendido”

74. Miriam, curiosa, perguntara para sua irmã se um anjo de verdade conversou com Liza.

75. Sorridente, Liza lhe dissera que um anjo lhe visitou durante o sono, cerca de um mês após descobrir que estava grávida, mesmo após a menopausa.

76. Miriam, curiosa, pergunta se o anjo tinha grandes asas e roupas alvas como as nuvens do céu, e sorridente, Liza lhe dissera que o anjo que viu não se encaixava bem nesta descrição.

77. Durante o seu sono, Liza viu um pássaro de 128 penas, e em cada pena, haviam olhos que tudo olhavam. O pássaro brilhava em todas as cores do arco-íris e se assemelhava a um grande pavão, o mais belo de todas as aves.

78. Em seu sonho, Liza olhara o grande pavão voando pelos céus. Sua gigantesca envergadura cobria todo o continente e seu bico cortava os céus como a ponta de uma flecha.

79. O grande pavão então desceu à terra, girando em volta de Liza para aterrissar em um pouso elegante. Liza então viu o grande pavão aterrissar em sua frente, e o pavão era gigante e de grande imponência.

80. E Liza repetira as palavras do pavão que foram entregues à ela durante o sonho, enquanto os seus pais, seu esposo, sua irmã, seu cunhado e seu filho lhe fitavam atentamente:

81. Alegre-te, filha dos Azimi,
há de chegar o seu primogênito.
Será forte e corajoso
e ALLAH já consagrou seu nascimento.

82. Guiará o seu povo para a libertação
de toda a dor e sofrimento.
Trará a justiça e a salvação,
pois há de chegar um novo tempo.

83. Ao ouvir essas palavras, Miriam ficara extasiada, pois um anjo de verdade havia conversado com sua irmã. Miriam ficou tão impressionada que não estava prestando mais atenção na conversa de Liza, perdida na imaginação, se imaginando voando nas costas de um pássaro gigante, sobrevoando os planaltos de Khorasan.

84. Quando desceu do céu e voltou a prestar atenção às palavras de Liza, assim ela dizia:

85. “E sentia grande gratitude pela mensagem do anjo, mas meu marido não havia acreditado”, ela continuava.

86. Querendo se explicar, Zakariya dissera que não tinha como Liza estar grávida, pois eram muito velhos e…

87. …digamos, por eufemismo, que a torre de Zakariya não seria reerguida nunca mais.

88. E Zakariya olhara para Liza, e Liza olhara para Hannah, e seu pai olhara para Liza, e Miriam olhara para seu pai, e Yousef olhara para Miriam, e Yohannan olhara para Yousef.

89. Suando frio, Liza explicava que Yohannan foi concebido por um milagre divino, pois um anjo lhe visitou, afinal. Aliviados, todos concordam e balançam suas cabeças ao mesmo tempo. Afinal, essa seria a única explicação para o nascimento de Yohannan, de fato, a única, com certeza.

90. Para sustentar a explicação de Liza, seu esposo, Zakariya, conta que foi punido pelo mesmo anjo que visitou o sono de sua esposa, punido por não acreditar nos milagres e mistérios de ALLAH.

91. Quando Liza acordara de seu sono, havia anunciado as boas novas do nascimento de um corajoso guerreiro que iria libertar o povo da opressão e da injustiça, um guerreiro que traria um novo tempo de paz e prosperidade.

92. E repetindo as palavras do anjo pavão, que Miriam não havia escutado, Liza também conta que, ao acordar, anunciara que seu filho seria martirizado pelo seu próprio povo e se sacrificaria por um bem maior.

93. E Liza se alegrava com tantas boas novas do ser celestial que lhe sussurrou em seu inconsciente. Zakariya, contudo, não pôde impedir de esboçar uma expressão de descrença e desconfiança.

94. Pois, como já mencionado anteriormente, Liza e Zakariya eram demasiadamente velhos, e Liza era vista com maus olhos pelas outras mulheres por ser infrutífera.

95. “Vejam como Ilizabith é uma velha fracassada! Apontemos vossos dedos para esta idosa!”, diziam as mulheres.

96. “Não é para tanto”, me disse o Mahdi. Creio que exagerei um pouco, assim diz Ramakrishna.

97. De qualquer maneira, Liza era julgada, e além de tudo, o casal vivia em plena guerra no Afeganistão. Mesmo para as camadas sociais mais desesperadas pela vinda de uma figura heróica e messiânica, a notícia da vinda de um forte guerreiro que libertaria seu povo era muito absurda, ainda mais vinda de uma mulher que, por vezes, era julgada como “ausente de suas faculdades mentais”.

98. De qualquer maneira, Liza era julgada, e além de tudo, o casal vivia em plena guerra no Afeganistão. Mesmo para as camadas sociais mais desesperadas pela vinda de uma figura heróica e messiânica, a notícia da vinda de um forte guerreiro que libertaria seu povo era muito absurda, ainda mais vinda de uma mulher que, por vezes, era julgada como “ausente de suas faculdades mentais”.

99. E Zakariya, fiel esposo de Liza, não acreditara nas palavras sagradas do anjo pavão. “Você deve estar embriagada, amor, isso não aconteceu”, dizia o esposo.

100. E estas palavras magoaram profundamente ao coração de Liza, que foi-se a chorar em seu quarto. Chorou, pois seu esposo era um homem que lhe carecia fé e esperança em suas vidas e o futuro de seu povoado.

101. Furioso, o anjo pavão reapareceu em outro sonho, contudo, um sonho não mais de Liza, mas de Zakariya. Durante a meia-noite, Zakariya viu um grande pássaro de 128 penas com diversos olhos que tudo olhavam e tudo viam.

102. E bem lembra Zakariya das palavras do pavão em seu sonho, pois foram palavras de vingança e temor, palavras que jamais iria esquecer:

103. Magoaste vossa esposa, seu otário.
Vá tomar no seu cu velho do caralho.

104. E gritando muito alto, Zakariya viste o anjo pavão assumir uma forma humanóide, sem cobrir a sua glória com nenhuma de suas asas ou 128 penas, cegando-lhe a visão de Zakariya com a nudez do anjo pavão.

105. E atemorizado, Zakariya acordou em meio a uma emboscada dos mujahidins, que abriram fogo contra todos em volta, e com a explosão de uma granada, havia se tornado cego e surdo.

106. Zakariya não receberia seus sentidos novamente até o nascimento de Yohannan Azimi, quando oficializara o nome de seu filho aos médicos e enfermeiros no hospital de Mexede.

107. Bem lembra Liza do nascimento de seu filho, que já havia nascido com alguns poucos pelos em seu liso peito de neném. Logo, os médicos acusaram uma anomalia ou possível deformidade, mas não havia motivo para preocupação, pois a saúde do bebê era imensa.

108. Emocionada, ela dissera: “Seu nome será Kaled, pois há de viver por muitos e muitos anos. Seu legado será perpetuado por toda a eternidade e todos os povos da terra hão de ouvir o seu nome.”

109. Zakariya, porém, havia se comportado de forma estranha, após meses sem a capacidade de perceber o mundo em sua volta. Tanto Liza quanto os médicos e enfermeiros se assustaram com sua súbita mudança de comportamento.

110. Segundo o que dizia Liza, temiam pela vida de Zakariya, pois acreditavam estar possuído por algum tipo de entidade, que lhe fazia seus membros se chacoalharem.

111. Cego e surdo, Zakariya escreveu com uma caneta azul, em uma única vez, o nome que havia em sua cabeça na parede branca da sala do hospital.

112. Após escrever lentamente, deixou a caneta cair no chão. O pai da criança havia escrito um nome, e esse nome era Yohannan, pois era eternamente grato pelo nascimento de seu filho.

113. Ao menos, era este o nome que estava escrito na parede do hospital, se o observador em questão tivesse uma visão debilitada, entortasse a cabeça e olhasse de uma distância considerável.

114. E muitas testemunhas questionaram este evento, pois a parede do hospital se manteve rabiscada por mais 3 dias.

115. No primeiro dia, as testemunhas negaram a veracidade dessa suposta possessão espiritual, e diziam que se tratava apenas de uma mera coincidência.

116. No segundo dia, as testemunhas barganhavam, dizendo que os rabiscos na parede já estavam escritos há muito mais tempo, ou que o homem que a escreveu poderia não estar de fato cego.

117. No terceiro dia, todas as testemunhas aceitaram que este evento era de fato magnífico, e por isto, o governo inglês não tardou em arrancar este pedaço da sala do hospital para exibir no British Museum como uma valiosa obra de arte.

118. E apreciadores de arte moderna por todo o mundo se reuniram no museu britânico para discutir o sentido e a profundidade de tal obra de arte, categorizada como arte de rua.

119. E muitos apreciadores tardaram para descobrir que este pedaço de parede era originário do Afeganistão, mas ao menos todos que observaram a obra viram o nome de Yohannan sendo exposto mundo afora.

120. E assim foi nomeado o filho de Liza e Zakariya, pois, para um homem velho cego e surdo, sem a menor consciência de seus arredores, conseguir, ainda assim, escrever o nome de seu filho e este nome ainda ganhar fama mundial em programas de televisão do ocidente, só poderia ser um milagre.

121. E todos na mesa, que ouviram a história do casal, concordam e balançam suas cabeças ao mesmo tempo. Afinal, essa seria a única explicação para o nome de Yohannan, de fato, a única, com certeza.

122. Impressionados com histórias de seres celestiais visitando sonos alheios à meia-noite e cegos rabiscando paredes, enquanto se alimentavam casualmente da deliciosa refeição preparada por Zakariya, Hannah é a primeira a dizer que Yohannan é o Mahdi.

123. E Miriam se maravilhara com a história do casal, pois não deixava de imaginar que sua irmã dera à luz ao Mahdi.

124. Miriam seria então, a tia do messias, o anjo do eclipse, o profeta do apocalipse. Grandes canções seriam cantadas à respeito de Yohannan, ou melhor, peças de teatro e filmes de ação, onde homens formosos e musculosos interpretariam Yohannan, o grande guerreiro da Pérsia.

125. E a mãe de Yohannan, Liza, seria então louvada e agraciada como a mãe do messias, a mãe do Mahdi. Liza então tomaria de volta para si todo o esplendor e honra que lhe foi tirada pelas mãos acusadoras de mulheres invejosas e homens maliciosos.

126. A justiça seria, de fato, estabelecida na terra, os fracos seriam exaltados, e os opressores, humilhados. Os pobres receberiam prosperidade e abundância, enquanto os ricos seriam desprezados.

127. E assim, todos na mesa, se alimentando da refeição preparada por Zakariya, riam e se alegravam com a saúde e a alegria de Yohannan, o menino valente.

128. Yohannan, vendo que seus pais se referiam á ele, começou a fazer brincadeiras para chamar a atenção da visita, imitando um soldado e fazendo poses de herói, e todos riam junto com Yohannan, que além de profetizado forte e corajoso, era também muito carismático já na primeira infância.

129. Miriam, de repente, tampou sua boca com uma das mãos e deixara a mesa para ir ao banheiro às pressas, pois sentiu ânsia de vômito.

130. Vendo a situação, Zakariya riu e dizia: “Minha refeição não deve ter descido bem no estômago de Miriam.”

131. Mas o olhar de Yousef, contudo, se encheu de descrença e desconfiança.

132. E essas foram as palavras do Mahdi, acrescidas de palavras de Ramakrisha, aos seus seguidores.

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Feito com amor por Pedro Vasconcellos - 2008